sábado, 15 de janeiro de 2011

"Fantasporto 2011": programação provisória

Os últimos anos do Fantasporto, supostamente o festival português de cinema com mais projecção internacional, têm sido no mínimo conturbados em termos de qualidade e de identidade.
Se a programação do ano passado vingou-nos ligeiramente de programações medíocres de vários anos anteriores, parece que se bateu no fundo com esta edição de 2011. Apesar de haver filmes importantes para ver, a programação do Fantasporto 2011 faz-nos perguntar de uma vez por todas, o que é que é hoje o Fantasporto? Um festival de cinema fantástico de renome? O Sundance europeu? O Cannes português? Uma mostra de cinema de género norte-americano comercial? Uma mostra de cinema espanhol? Um festival de séries B e Z underground?
Pelos vistos, a resposta é isso tudo ao mesmo tempo mas sem meios adequados e sem uma definição estratégica clara, o resultado é simplesmente desastroso e o Fantasporto acaba por não ser satisfatório em nenhuma dessas categorias.
Em termos de cinema fantástico, O Fantasporto é neste momento ultrapassado por qualquer festival existente, seja na qualidade, seja na coerência programativa, até pelo jovem MOTELx (4 anos de idade contra 31!). Cannes ou Sundance? Veja-se o IndieLisboa ou o Estoril Film Festival e percebe-se a distância que o Fantasporto tem de percorrer, mais uma vez a nível da coerência das escolhas de programação. E se é para ser uma mera mostra de cinema comercial norte-americano, não obrigado, ou de cinema de género espanhol, a qualidade actual dos filmes de nuestros hermanos não é suficiente para alimentar um festival digno desse nome.
No final, o que é hoje o Fantasporto? Um festival frustrante! Porque o seu nome ainda é sinónimo de expectativa e que desde o início da década de 2000 raramente cumpre, porque falha constantemente em trazer os filmes que os fãs de cinema de género estão à espera, sendo esse o seu principal público, o que parece estar esquecido pela organização, e porque as escolhas dos filmes de autor respeitáveis são inconsequentes para conseguir trazer ao festival outro público que não o tradicional do Fantasporto.
Último ponto e novidade de 2011, o desespero é tanto para trazer mais público ao festival que consta da programação, como nunca antes visto, filmes do mais comercial possível que ainda por cima irão estrear brevemente no circuito comercial nacional, sendo alguns deles potenciais bostas fílmicas que não foram escolhidas certamente pela sua qualidade mas sim pelo seu potencial comercial. Quando um festival de cinema fantástico, o género mais subversivo de todos, chega a esse ponto é porque as coisas estão muito mal. A escolha de "Season of the Witch" de Dominic Sena com Nicolas Cage para a sessão de encerramento é um statement inequívoco da derrota do Fantasporto relativamente a sua razão de ser inicial e um verdadeiro insulto aos fãs de cinema de género que acompanham e acarinharam desde sempre o festival. Um sentimento que marca definitivamente esta edição de 2011.
Assim sendo, onde é que estão filmes como "Black Death" de Cristopher Smith (concorrente directo de "Season of the Witch" para um resultado completamente diferente!), "We Are What We Are" de Jorge Michel Grau, "The Man from Nowhere" de Lee Jeong-Beom, "The Ward" de John Carpenter, "Dream Home" de Pang Ho Cheung, "Vanishing on 7th Street" de Brad Anderson, "Rare Exports" de Jalmari Helander, "The Hole" de Joe Dante, "Insidious" de James Wan, "Les 7 Jours du Talion" de Daniel Grou, "Animal Kingdom" de David Michôd, "Bodyguards and Assassins" de Teddy Chan, "Captifs" de Yann Gozlan, "Cold Fish" de Sono Sion, "Chatroom" de Hideo Nakata, "Detective Dee and the Mystery of the Phantom Flame" de Tsui Hark, "Frozen" de Adam Green, "I Spit on your Grave" de Steven R. Monroe, "Kaboom" de Gregg Araki, "Rubber" de Quentin Dupieux, "Los Ojos de Julia" de Guillem Morales, "Monsters" de Gareth Edwards, "Mother's Day" de Darren Lynn Bousman, "Outrage" de Takeshi Kitano, "Red Hill" de Patrick Hughes, "Stake Land" de Jim Mickle, "The Door" de Anno Saul, "Thirteen Assassins" de Takashi Miike, "The Violent Kind" de The Butcher Brothers, "Tucker & Dale vs. Evil" de Eli Craig, "We are the Night" de Dennis Gansel? Bastava um terço destes filmes para substituir mais de metade da programação e teríamos um Fantasporto 2011 digno desse nome.
Resta-nos destacar pelo menos os filmes imprescindíveis desta edição 2011, ou seja, "I Saw the Devil" de Kim Jee-Won, "Bedevilled" de Jang Cheol-So e "Splice" de Vincenzo Natali (filme de 2009 anunciado no cartaz do ano passado e retidado à última da hora, incompreensível!) assim como alguns outros que têm um evidente potencial como "Red Nights" de Julien Carbon et Laurent Courtiaud, "The Housemaid" de Im Sang-Soo, "Sound of Noise" de Ola Simonsson e Johannes Stjarne Nilsson e "Kidnapped" de Miguel Angel Vivas.
Para aceder à programação provisória completa, basta clicar no poster abaixo, e quanto a uma eventual ida ao Fantasporto este ano, wait and see...

Sem comentários: