sábado, 28 de junho de 2008

"Vinyan": um novo "Calvaire" na selva tailandesa

O belga Fabrice Du Welz ainda não é muito conhecido dos cinéfilos que acompanham de longe o cinema de género francófono. Mas os mais atentos, e que moram em Lisboa, puderam descobrir a sua primeira longa-metragem, intitulada “Calvaire”, numa projecção organizada em 2005 pelo CTLX – Cineclube de Terror de Lisboa.

(clicar no poster para aceder ao trailer de "Calvaire")

Para terem uma ideia do talento deste senhor, “Calvaire” foi simplesmente uma das melhores propostas do género dos últimos anos, aliás desde o renascer do cinema de terror em 1999/2000. Du Welz demonstrou com a sua primeira obra uma maturidade visual e temática impressionante, prestando homenagem ao cinema dos anos 70 (o incontornável “The Texas Chain Saw Massacre” de Tobe Hooper em primeiro lugar) e ao mesmo tempo introduzindo-nos no seu universo atípico, doentio, brutal e sem concessões. “Calvaire” é no final um monumento imperdível de cinema visceral e perturbador, como qualquer filme de terror deveria ser.
Nesse contexto, não podíamos deixar passar o seu próximo projecto, que como vamos ver é mais uma promessa de cinema transgressivo e inteligente para além de fazer a prova da integridade e do amor do género sem limites de Fabrice Du Welz.
“Vinyan” (fantasma em tailandês) conta a tragédia de um casal de arquitectos (Emmanuelle Béart e Rufus Sewell) que vivem em Banguecoque. Na altura do tsunami que arrasou a região, o casal perde o seu único filho e fica desesperado. Durante o difícil processo de luto que se segue, numa festa de caridade para angariar fundos para as vítimas do tsunami, a mãe reconhece o seu filho num vídeo que mostra as consequências do desastre no país. Começa então uma terrível descida aos infernos onde a mãe, decidida a encontrar o seu filho custe o que custar, convence o seu marido a acompanhá-la numa viagem sem retorno pelas selvas tailandesas e birmãs.

(clicar na foto para aceder à ficha técnica do filme)

Temos andado de olho neste projecto mais do que aliciante há já algum tempo mas estávamos à espera de um primeiro trailer para falar deste “Vinyan”. Cá está ele então e todas as nossas esperanças acabam de crescer exponencialmente, tanto as imagens do filme prometem uma bomba de violência interior, tirando um partido alucinante dos cenários tailandeses para dissertar sobre temas tão importantes como o luto impossível, a perda de si próprio, o confronto ocidente/oriente através da dualidade antinómica razão/fé, a figura da criança e o que ela representa num mundo de adultos, etc.
Fabrice Du Welz e o seu sobredotado director de fotografia Benoît Debie compuseram imagens hipnóticas, fazendo do décor uma autêntica personagem com a utilização do máximo de luz natural possível. Assim, parece que existe um perigo a cada canto da imagem, mas um perigo de ordem sobrenatural, não palpável e sem limites, que poderá ser tão interior quanto exterior com estas figuras mais do que inquietantes de crianças fantasmagóricas.

(clicar na foto para aceder ao blogue de Fabrice Du Welz sobre "Vinyan")

Fabrice Du Welz cita como influências três filmes em particular: “Don’t Look Now” de Nicholas Roeg, “The Brood” de David Cronenberg e “Quién Puede a Matar a un Niño?” de Narciso Ibáñez Serrador. Três clássicos intemporais que tratam cada um à sua maneira da figura da criança, da consequência trágica da sua perda e da violência contida em cada uma delas inerente à sua posição na sociedade imposta pelos adultos. Três obras visionárias, transgressivas, intelectuais, formalmente superiores e atmosféricas. Características que parecem definir “Vinyan” de Fabrice Du Welz, cineasta que de certeza irá mais uma vez nos surpreender.

(clicar na foto para aceder à uma entrevista em vídeo do realizador)

Du Welz, que depois de “Calvaire”, teve a inteligência e a integridade de recusar uma série de projectos vindos de Hollywood (nomeadamente o patético remake de “The Fog”), preferindo continuar a fazer projectos pessoais. “Vinyan” demorou 4 anos a fazer e prepara-se para estrear na Bélgica e em França no próximo dia 1 de Outubro. Não há dúvidas que é de artistas deste calibre que o cinema de género precisa e, juntando-se a “Martyrs” de Pascal Augier, “Vinyan” é o filme de terror mais esperado do ano. Esperemos que desta vez, o filme chegue como deve ser a Portugal, tem de acabar de vez o verdadeiro cinéfilo ser assim tão mal tratado. ‘nuff said!

(clicar na foto para aceder ao assombroso trailer de "Vinyan")

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